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Desigualdade da cura do câncer

O câncer é uma gama de doenças que pode acometer tanto ricos, quanto pobres. No entanto, se o seu desenvolvimento é, digamos, democrático, a cura, por sua vez, está diretamente ligada ao perfil socioeconômico de uma nação. É o que afirma um amplo estudo publicado na renomada revista científica The Lancet. Trata-se do estudo CONCORD-3, resultado do esforço de uma aliança global que avalia o impacto das políticas de controle do câncer e dos programas de saúde, analisando métricas de sobrevivência dos pacientes. O relatório avaliou 37,5 milhões de casos diagnosticados com câncer entre 2000 e 2014. Para chegar a este número, foram reunidos os dados de 322 locais de registros populacionais em 71 países.

Os tipos de câncer analisados foram esôfago, estômago, cólon (intestino grosso), reto, fígado, pâncreas, estômago, mama, colo do útero, ovário, próstata, melanoma, tumores cerebrais, leucemias e linfomas. Foram quantificados quantos pacientes estavam vivos cinco anos após o diagnóstico para cada tipo de câncer levando-se em conta a variável socioeconômica.

O trabalho mostrou que a sobrevivência em cinco anos está em uma curva crescente nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e Dinamarca. O cenário positivo de sobrevivência para esses países se confirma até mesmo para os tumores mais letais, dentre eles fígado, pâncreas e pulmão. Comparativamente, a sobrevivência em cinco anos de pacientes com câncer de mama na Austrália e Estados Unidos é de, respectivamente, 89,5% e 90%, enquanto que na Índia a taxa de sobrevivência em cinco anos cai para 66,1%.

O Brasil está entre os países contemplados no estudo. O país contribuiu com os registros obtidos em seis cidades cujos dados, segundo os autores, traziam registros confiáveis. As cidades em questão são São Paulo, Jaú (interior paulista), Curitiba, Aracajú, Goiânia e Cuiabá. Embora o país tenha sobrevida de câncer de mama e próstata próxima à de países desenvolvidos, há gargalos importantes no controle do câncer no Brasil. Um dos exemplos trazidos no estudo é a sobrevida de câncer cerebral em crianças. Enquanto as maiores taxas de sobrevivência na Dinamarca, Eslováquia e Suécia girou em torno de 80%, no Brasil a taxa foi inferior a 40%.

Desde 2017, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico adota os dados trazidos pelo programa CONCORD como referência oficial da sobrevivência do câncer entre seus indicadores da qualidade dos cuidados de saúde em 48 países do mundo. O CONCORD é fruto de um esforço global que contempla alguns dos principais Ministérios da Saúde, Sociedades Médicas e ONGS voltadas para o controle do câncer no mundo. Mais informações: http://csg.lshtm.ac.uk/research/themes/concord-programme/.

REPORTAGENS
Correio BrazilienseSobrevida de pessoas com câncer e mais baixa nos países pobres
O GloboSobrevida de crianças com câncer cerebral e menor no Brasil, diz estudo
El PaísLa supervivencia al cáncer aumenta en todo el planeta, pero sobre todo para los pacientes ricos

Estudo publicado na The Lancet: http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(17)33326-3.pdf